Luciana Faria
Camburi, SP
POR NINA LEVY
26.02.2021
Conhecer a Lu foi um dos presentes da pandemia, grande amiga de amigos muito especiais, nosso santo bateu logo de cara. Mulher de presença e potência, com a fala solta e o corpo cheio de registros da vida.
É difícil não percebê-la, mais difícil ainda é não querer conversar com ela.
Já tinha ouvido falar da sua linda casa na Lobo Guará, em Cambury (Litoral Norte de SP), mas confesso que me surpreendi quando entrei. Chegamos lá por volta das 10:30h da manhã pra bater um papo e tirar umas fotos rápidas, mas a conversa tava tão boa que o tempo passou e quando vimos já eram quase 4 horas da tarde.
Se tinha alguém que deveria ser a primeira pessoa a ser entrevistada para esse meu novo projeto chamado Vagalume, esse alguém era a Lu.
A casa que é também seu atelier de cerâmica, além de ser a morada dela e de sua filha, Isadora, tem um quintalzão de areia que abriga cachorros, gatos, galinhas, coelhos, teiús, muitas plantas e quem mais quiser aparecer por lá.
Um lugar para se conectar e se inspirar com tudo aquilo que está a nossa volta !
Te convido para vir conhecer um pouco mais da Lu e do seu incrível trabalho.
- Conte um pouco sobre quem é você ?
Eu sou mulher, livre, autônoma, não religiosa, aprendiz de agente político, mãe de mulher, ceramista, educadora, comunicadora. Acredito no Amor, na Natureza e na Amizade.
- De onde você é ? Há quanto tempo mora em Cambury ?
Sou da Terra, nasci em santo André e vivo em Cambury desde 1992, 29 anos.
- Porque veio morar aqui ?
Vim morar no litoral por circunstância, me aconteceu uma oportunidade de trabalho e agarrei. Permanecer foi escolha.
- Qual é a primeira coisa que você faz quando acorda ?
Depois que desativei a maioria das notificações do celular, as primeiras ações do dia são, abrir as janelas, alimentar os bichos e molhar as plantas enquanto passa o café.
- Como a cerâmica entrou na sua vida ?
No inconsciente acho que foi em Firenze, eu era muito nova e não tinha nenhum conhecimento sobre arte, mas me emocionava tudo aquilo me invadindo a retina. Poucos anos depois, já vivendo em Cambury, eu vi a cerâmica feita pela Helene Perutz e me apaixonei, pedi a ela que ensinasse, zero grana para pagar aulas [rs] e ela não só me ensinou como se tornou minha grande amiga.
- Há quanto tempo trabalha com cerâmica ?
Há 25 anos.
- Quais são as melhores partes ou maiores aprendizados de morar entre a praia e a mata ?
Morar no mato e perto do mar são a melhor parte em si, não tem parte ruim pra mim. O maior ganho foi sair da cidade, entender que pro meu temperamento era fundamental estar em ambiente tranquilo pra não me tornar uma bomba prestes a explodir.
- E quais são as maiores dificuldades ? O que poderia melhorar ?
As dificuldades são de origem humana, má educação, má administração, mau caratismo da classe política. Não sei como melhorar sem administradores comprometidos com a preservação do meio ambiente e garantia de dignidade à população fixa.
- Do que vc sente falta ?
De atividades culturais.
- Você notou que a vizinhança e o lugar mudou nos últimos anos ? De que forma ?
Bem, em quase trinta anos mudou tudo, aumentou o numero de construções e moradores, consequentemente a poluição dos rios, matas e mar, a infraestrutura que já era insuficiente passou a ser lamentável.
- Qual é a sua parte preferida na sua casa ?
Dificil escolher!!!! Tem partes favoritas para cada momento do dia!
- Qual a sua relação com o mar ?
Sou parte dele e ele de mim.
- Qual a sua relação com a natureza ao seu redor ?
Ela me ensina todo o tempo, a comunicação é incessante, intuitiva, de aceitação e pertencimento. Eu sou a natureza.
- De qual forma ter uma filha alterou a sua vida ?
Ao receber a Isa fiz a escolha de estar presente, isso definiu caminhos profissionais, alterando rotas a medida que a necessidade de estarmos juntas ia surgindo. De forma orgânica e sempre priorizando trabalhar no que eu quisesse, equacionando esses dois fatores, estar com ela e fazer o que me desse prazer e sustento.
Me tornar mãe também colocou em cheque a hipocrisia nossa de cada dia. Todo dia uma chance de escolher entre ser hipócrita amparada no discurso da maternidade que tudo justifica com “proteção”, amor incondicional, preservação e outros, ou praticar o que eu penso e digo na educação e orientação dela.
- O que mais gosta de fazer em seu tempo livre ?
Meu tempo é todo livre! [rs] Quando não estou realizando as tarefas que precisam ser executadas eu gosto de ler, sair de barco, deitar na areia, rolar a tela do celular, rir, estar com os amigos, amar.
- Tem alguma / Quais são as suas ações individuais para gerar menos impacto e resíduos no ambiente em que vc vive ?
Redução de consumo é a maior, eu acho. Reaproveitamento é uma paixão, fazer o que seria descartado se tornar algo útil (e bonito, claro) é um exercício de criatividade incrível. Escolha do que comprar considerando a embalagem. Consumo de produtos que não vieram de caminhão la da casa do chapéu se eu puder comprar de produtores mais próximos. Deve haver mais, mas são ações que não passam mais pelo raciocínio, ja são hábitos.
- Você participa ou conhece algum projeto bacana relacionado a educação e meio ambiente pela região ? Qual ?
Tem vários grupos como a Rede Brotar, a Ascam, as meninas da Salty Sister, que estão sempre promovendo ações e se comprometendo com conscientização do povo.
- Qual é o seu sonho ?
Agora a vacina [rs]. Meus sonhos mudam o tempo todo. Os fixos, Isadora se tornar uma mulher autônoma, bem sucedida no que escolher e com consciência de classe (responsabilidade social). Quero viver com saúde, conhecer muitos lugares novos, ter um relacionamento afetivo saudável.
- Quais são as suas maiores inspirações como artista ?
A natureza é a minha maior fonte de inspiração.
- Tem algo que gostaria de compartilhar ? Aprendizados, dicas, inspirações...
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